Apesar de não ter sido determinante, os restaurantes tiveram um papel significativo na divulgação da música cabo-verdiana. Quando vão almoçar ao Espaço Cabo Verde ou à sede da Associação cabo-verdiana, na rua Duque de Palmela, os clientes portugueses querem ouvir uma morna enquanto comem uma catchupa e dançar uma coladera ou um funana depois da refeição. É assim há vários anos. Foi, aliás, o músico Bana um dos primeiros a dar o mote, inaugurando um restaurante que acabaria por funcionar como local de divulgação da música da sua terra.
Em finais de 1976, o cantor cabo-verdiano e um parceiro português abriram um espaço em Lisboa baptizado Restaurante Novo Mundo. Comiam-se pratos cabo-verdianos e ouvia-se música cabo-verdiana com o conjunto Voz de Cabo Verde. A aposta musical deste espaço foi confirmada em 1978 com a contratação do seu primeiro disc jockey (DJ), a cantora Jacqueline Fortes, uma cabo-verdiana que tinha deixado Dakar para tentar uma carreira musical na Europa (entre os temas por ela gravados, destaca-se “Seis one na Tarrafal“).
A partir de 1979/80, Bana assume sozinho a gerência do restaurante rebaptizado Monte Cara (mudaria de nome quatro vezes, chamando-se sucessivamente Bana’s, África’s, Pilon 2 e En’clave). Mas a localização foi sempre a mesma: Rua do Sol ao Rato.
«A filosofia é a mesma que ditou a criação deste espaço, isto é, a música ao vivo. Os discos? Só no intervalo», precisa Ademiro. Filho do Bana, Ademiro foi gerente do Enclave, juntamente com os músicos Leonel e Tito Paris. Até aos anos 1980, a clientela era sobretudo composta por cabo-verdianos e alguns africanos lusófonos. «No começo, funcionou como passagem obrigatória para os crioulos. Alguns compatriotas provenientes de Holanda ou Itália, chegavam inclusive com a mala para passar a noite ouvindo música e bebendo umas cervejas e seguir viagem no dia seguinte», acrescenta.
Dany Silva também esteve ligado aos espaços musicais cabo-verdianos em Lisboa, dirigindo, sucessivamente, Clave de Tó, Clave di Nôs e Pilon, em meados dos anos 1980. «Excepto no Bana, a música cabo-verdiana ainda era pouco tocada ao vivo quando comecei no Clave de To», recorda. O espaço situava-se ao pé do Castelo de São Jorge, junto à Rua Voz do Operário e já tinha pertencido ao artista português José Cid.
Foi neste espaço que chegou a ser tema de reportagem da revista Se7e, onde Tito Paris começou a cantar e onde também nasceu a amizade entre Dany Silva e Rui Veloso. «Serviu para aproximar Cabo Verde e Portugal numa altura em que os cabo-verdianos eram mal vistos e geralmente associados à violência, conforme os artigos publicados na imprensa. Os clientes portugueses viram que afinal os cabo-verdianos eram pessoas normais», recorda Dany Silva.
Mas o Clave de Tó estava a tornar-se demasiado pequeno e era preciso procurar um espaço maior. Foi assim que nasceu Clave di Nos, numa antiga casa de fado do Bairro Alto. A aventura durou dois anos e ficou marcada pelas actuações de Toy Vieira, Paulino Vieira, Jorge Palma e Rui Veloso. Considerando que o espaço do Bairro Alto tirava-lhe demasiado tempo, sobretudo do ponto de vista musical, Dany Silva acabou por renunciar ao projecto. Mas a paragem durou apenas dois anos. Em 1991, o músico recebeu um convite para dirigir uma casa com pista de dança em Alcântara, o Pilon. «O espaço era pequeno mas tinha muita alma», explica o músico, que assumiria essa função até 1995. Além de gerente, Dany era também membro do grupo que ali actuava e do qual faziam parte Tito Paris, Manel e Zé Afonso. Hoje, é acima de tudo como músico que Dany Silva anima as noites cabo-verdianas em Lisboa, no En’clave e no B.Leza, espaço localizado no Largo do Conde Barão, em São Bento. (Nota: entretanto o B.Leza mudou de localização)
A discoteca e restaurante, situada no primeiro piso da sede da Casa Pia FC, um histórico clube de futebol da capital portuguesa, foi inaugurada em 1989 pelo português Augusto Ribeiro. O percussionista e ex-membro do grupo de Dany Silva pretendia dar continuidade à sua paixão musical e criou O Baile que definia como um espaço de música e ponto de encontro de pessoas de todas as origens.
Em 1996, O Baile mudou de mãos e passou a chamar-se B. Leza mas manteve a mesma filosofia, isto é, muita música ao vivo e um ambiente que faz da discoteca uma das referências das noites lisboetas por onde passam músicos crioulos e de outras paragens. A compilação produzida em 2003 por Alcides Nascimento é uma prova clara desta diversidade. Para dar corpo ao projecto, o gerente, por sinal filho do Bana, reuniu artistas como a portuguesa Filipa Pais, o angolano Filipe Mukenga, o guineense Justino Delgado, os brasileiros Gute e Miguel, e os cabo-verdianos Dany Silva, Nancy Vieira, Maria Alice, Vaiss, Toy Vieira, entre outros.
A estes espaços juntou-se um novo, na zona de Alcântara: chama-se Casa da Morna e como não podia deixar de ser, a música cabo-verdiana é rainha. E nessa casa, Tito Paris é um dos mestres da casa.
Ciro cartao de credito bradesco diz
Informacoes maravilhosas aqui! ha um hyperlink da fonte eu posso ir para buscar mais informacoes?
zemonte diz
Olá, obrigado pela visita.
Quanto à pergunta, esta é a fonte e a informação disponível.
Nadia Parsons diz
Afinal… onde é o clube africano o Bana?
zemonte diz
Olá Nadia,
O Bana, além de o grande cantor cabo-verdiano que era, teve um clube nocturno (finais de 1970 até meados de 1990), também era conhecido como Bana (e mais tarde, com outra gerência, Bana’s) mas de facto o espaço chamava-se Restaurante Monte Cara.
José Carvalho Paula diz
Rua do sol ao rato, lado esq. de quem sobe antes de chegar à saraiva de carvalho