Passaram-se mais de vinte anos mas acabou por acontecer. Corriam os anos 1970 e Celina Pereira presenciava um espectáculo ao lado do seu tio Aristides Pereira quando subiu ao palco um tocador de kora. «Naquele dia descobri um instrumento lindíssimo com uma sonoridade celestial e comentei com o meu tio Aristides. Ele disse-me: porque não experimentas este instrumento nas tuas mornas? Prometi-lhe que assim faria». A cena aconteceu em 1975, durante a comemoração da independência do arquipélago, num cine-teatro da Praia.
No dia 06 de Março de 2002, perante o tio e primeiro presidente de Cabo Verde, entre dezenas de espectadores, a sobrinha cumpriu a sua promessa fazendo-se acompanhar por Braima Galissa, músico guineense e exímio tocador de kora, num espectáculo intitulado “O som do mundo da fala portuguesa”, organizado no Palácio Foz. «Temos que ultrapassar definitivamente as barreiras do regionalismo. A nossa mensagem não deve ficar somente na nossa sala de visita», diz a cantora, justificando a sua abertura àquele instrumento e a outras músicas.
Em Lisboa, Celina e outros compatriotas tiveram a possibilidade de juntar a sua música à de outros espaços lusófonos. Antes mesmo de terem sido popularizados no quadro da world-music, os duetos entre cabo-verdianos e artistas lusófonos eram frequentes em Portugal no âmbito de espectáculos e, doravante, de álbuns. Tito Paris recorda o convite que lhe fora feito há vinte anos pelo português Vitorino para participar, enquanto baixista e tocador de cavaquinho, na gravação de “Joana Rosa”, tema que o cabo-verdiano adaptaria ao crioulo anos mais tarde.
Por detrás dessas iniciativas, os artistas evocam a cumplicidade, o reconhecimento ou a vontade de obtenção de melhores resultados. «Para que um trabalho se desenvolva tens que ir beber a outras culturas, encontrar outros povos. É importante. Não se mexe na raiz mas a música respira de uma outra forma», explica o compositor e intérprete.
O também compositor e intérprete angolano Paulo Floresvê nessa colaboração a procura de um trabalho mais profundo. «A música de Cabo Verde tem evoluído bastante. Ao convidar alguns colegas cabo-verdianos, encontrei a melhor forma de dar uma certa base musical àquilo que escrevo. Foi um casamento muito feliz que emprestou algo mais ao meu disco», diz o músico angolano, acerca do ábum “Recompasso”, lançado em 2001.
O disco contou com a participação de três cabo-verdianos: Lura deu-lhe a réplica em crioulo em “É sô ma bô”, Sara Tavares fez a mesma coisa em “N’zambi N’Zambi” enquanto que Tito Paris emprestou a sua voz em “Clarice”. O artista angolano faz o balanço da experiência: «O tema “Clarice” foi composto a pensar no Tito, um amigo e uma pessoa bastante parecida comigo. Com a Lura, conseguiu-se uma fusão interessante num conceito mais universal. Já Sara Tavares conseguiu transmitir o sentimento exacto que eu queria e que ainda não tinha conseguido». Depois de ter trabalhado com instrumentistas cabo-verdianos e de ter homenageado o arquipélago em “Tributo a Cabo Verde” no álbum “Sodades d’África (Vol. 1)”, Paulo Flores encontrava assim a forma mais evidente de dar continuidade à colaboração.
Os três convidados de Paulo são uns habitués desses encontros lisboetas. Lura fez um dueto com o são-tomense Juka, em “Sabina”, e com o angolano Bonga, em “Mulenga Xangola”. Sara actuou ao lado dos portugueses Luís Represas e Paulo de Carvalho, por ocasião de espectáculos, e gravou com os também portugueses Rui Veloso (o tema “Saiu pra rua” em “20 anos do hard-rock”) e Ala dos Namorados (“Solta-se o beijo”, no álbum do mesmo nome). Por sua vez, Tito Paris convidou o português Paulo de Carvalho em “Nha pretinha”, além de ter associado o moçambicano Ildo ao álbum “Guilhermina”.
A experiência agrada às duas cantoras. «Gosto de participar em tudo o que seja bonito e que me traga algo de novo. Já tinha manifestado o meu desejo ao Paulo Flores de participar num disco dele. Adoro os trabalhos um bocado acústicos. Quando me mostrou a canção, apaixonei-me logo», explica Lura. Para Sara Tavares, os encontros musicais são bastante enriquecedores, sobretudo quando se trata de artistas experientes: «Em qualquer arte aprendo com a experiência dos outros. Gosto de colaborar com pessoas mais velhas que têm algo a partilhar comigo, ganho muito com isso. Não falamos muito mas procuro absorver aquilo que eles fazem, o estado de espírito com que o fazem. Atrai-me a forma e a frescura com que eles encaram o seu trabalho apesar de suas carreiras levarem anos».
Todos os grandes géneros musicais são contemplados, da coladera à morna passando pelo batuque. Na compilação lançada em 2003 pela discoteca B.Leza, Maria Alice gravou “Rotcha Nú” em dueto com a portuguesa Filipa Pais. A cantora portuguesa afirma ter alguma dificuldade quando canta mornas mas não recua perante os convites. Em 1994, fez um dueto com Ildo Lobo, numa edição de “Sol Lunar” e em 2000 participou no espectáculo de Tito Paris, no Coliseu de Lisboa. «Minha ideia é gravar um disco com músicas cabo-verdianas, acompanhada de músicos cabo-verdianos», lança.
Para gravar “Dinheirim”, o rapper luso-moçambicano, General D, foi ter com o grupo de batuque Finka Pé. «Eu é que as procurei. Já tinha ouvido o trabalho delas mas queria ir mais longe», recorda. General D disse ter-se sentido no seio de uma família e que aquele som lhe era muito familiar e próximo daquilo que fazia. «Dava para encaixar e encaixou em “Dinheirim”. Fomos brincando até chegar a altura de gravar e disse-lhes que queria convidá-las para o álbum».
Para o artista, tratou-se de uma questão de justiça, que tinha a ver com a ligação antiga entre o batuque e o rap. «Numa determinada altura, a Nacia Gomi afirmou que o rap não era uma coisa nova e que no seu tempo, algumas pessoas já faziam isso sem no entanto chamar rap à sua música. Foi uma forma de trazer à África e às raízes aquilo que começou lá e para fazer as pessoas entenderem que essa música teve a sua origem no continente africano. Na minha fase de aprendizagem, procurei juntar-me às batucadeiras de Finka Pé», justifica.
Segundo Tito Paris, a música de Cabo Verde não deve fechar-se. «Paralelamente à música que temos, também devemos aliarmos a outros músicos, nomeadamente dos países lusófonos como Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau ou Moçambique. Não se deve fechar a sua cultura», diz. A cultura e a música, em particular, devem ser abertas: «Essa abertura permite o desenvolvimento da arte».
Um ponto de vista partilhado por Celina Perreira: «Penso que não sou só cantora cabo-verdiana. Sou cantora, tout court. Posso cantar Schubbert, Handle, jazz ou música tradicional portuguesa. Não posso, neste mundo global, restringir a minha mensagem àquilo que eu acho demasiado regional, isto é ou só cantar em crioulo, ou só cantar Cabo Verde. Como cidadã do mundo, tenho que me situar de uma forma universal».
Víctor diz
Eu procuro uma Musica cabo verdiana , o nome de artista n sei bem,.So sei k é um dueto entre um homem e mulher.
Letra começa:
Onde sonha com boo .
sabe distintir nosso amor,…..ninguém sabe nha romance.
mim ajude…