Funana, uns evocam a tese de dois músicos do interior da ilha de Santiago chamados Funa e Nana. Um deles tocava a gaita (concertina ou acordeão diatónico) e o outro marcava o ritmo com o ferrinho, uma barra de ferro contra a qual esfregava uma faca.
A música que tocavam acabou por ser baptizada de funana.
Outros, como o investigador Félix Monteiro, apontam para uma música de origem estrangeira: «O funana é o equivalente do funganga no Brasil e do fungaga em Portugal».
Funana: badju di gaita
Nascido na ilha de Santiago, a mais populosa e onde a presença africana é mais marcante, o funana é acima de tudo uma música de camponeses nascida ao som do acordeão. Os religiosos tinham introduzido o acordeão diatónico no arquipélago para ser utilizado nas missas, no lugar do harmónio. Os camponeses acabaram por lhe dar um outro rumo.
Funana: da rejeição à aceitação
Mal nasceu foi logo submetido ao isolamento e à rejeição pelo colono mas também por uma burguesia urbana local que via nela a expressão musical de camponeses cujas festas acabavam em pancadaria e esfaqueamentos. Enquanto Praia se mantinha fechada ao badju di gaita (ou toki di gaita), os músicos de funana animavam as festas nos campos, recorda Sema Lopi, uma das figuras desta música.
Sema Lopi também tocou em São Tomé e Príncipe, arquipélago para onde emigraram milhares de cabo-verdianos que procuravam escapar às sucessivas fomes na sua terra. Não é por acaso que um dos temas mais emblemáticos do funana chama-se “Fomi 47” e evoca a partida para São Tomé. O autor da canção, Kodé di Dona, evoca a fome que naquele ano causou milhares de mortos no país e explica por que havia tantos candidatos ao trabalho nas roças, as grandes plantações de cacau.
Para Sema, Kodé mas também Bitori nha Bibinha, Tchota Suari e Katuta a única alternativa que lhes restava eram as festas que se organizavam no interior de Santiago. Mas as coisas mudaram em meados dos anos 80 com o regresso a Cabo Verde de Carlos Alberto Martins mais conhecido por Katchass.
«A revolução de Katchass teve o mérito de valorizar essa música até então classificada de primitiva», diz dele o músico Mário Lúcio, ex-membro do Simentera. Katchass percorreu o interior de Santiago, frequentou os músicos tradicionais, em particular Sema Lopi, e gravou suas canções. Juntamente com Quim, Silvestre e Rui, entre outros, fundou o Bulimundo a que se juntariam Zeca, Santos e Zé Augusto, do Opus Sete, grupo de um bairro da capital.
Bulimundo e o Funana Eléctrico
Os instrumentos tradicionais foram substituídos pela guitarra, violas baixo e ritmo, teclado, bateria e pela característica e linda voz de Zeca di nha Reinalda, e com a gravação dos primeiros álbuns, nomeadamente “Mundu ka bu kaba“, os mais cépticos, na Praia como em todo o país, aceitam definitivamente essa música. Katchass perderia a vida num acidente de viação durante um fim-de-semana em que músicos de todo o arquipélago debatiam o futuro da sua arte na cidade da Praia mas sua herança é enorme quanto mais não seja por ter contribuído para o reconhecimento do funana.
Apesar da gravação do tema “Dimocracia” ter ocorrido muito antes das mudanças políticas no país em finais dos anos 80, o conjunto Bulimundo, à semelhança dos músicos tradicionais, cantava sobretudo o passado, a amizade, a morte, as dificuldades da vida…
Com o Finaçon, grupo nascido pouco depois e do qual fizeram parte Zeca e o compositor Zézé di nha Reinalda, o funana transforma-se num verdadeiro género interventivo. Os textos são mais intervenientes e constituem autênticas críticas à injustiça, ao clientelismo no seio da classe dirigente mas igualmente aos abusos do poder, como se pode notar em “Si manera“:
“Dexa rapaz vivi di si manera.
Dexa mininas brinca di sés manera”.
(Deixem os rapazes viver como querem. Deixem as meninas brincar como desejam).
Ferro Gaita traz novo fôlego ao Funana
A chegada do zouk e a utilização excessiva dos instrumentos eléctricos nos anos 1990 prejudica parcialmente o funana, que acaba por perder a sua autenticidade durante algum tempo.
Mas o quadro altera-se com o surgimento de Ferro Gaita que traz um novo fôlego a este género. Os três membros do grupo (o grupo passou para seis membros anos depois) regressam aos instrumentos tradicionais (ferrinho e gaita) e, da revolução de Katchass, apenas conservam a viola baixo. Mais tarde juntariam a percussão e o búzio. O sucesso é imediato e acaba por beneficiar os músicos tradicionais, novamente no centro das atenções.
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¿Que mas nos puedes explicar?, ha sido maravilloso encontrar mas datos sobre este tema.
Saludos