A morna nasceu na Boavista no fim do século XIX (a mais antiga de que se tem conhecimento – “Brada Maria” -, data de 1870). A ilha era na altura um importante centro económico cujas actividades se baseavam na exportação do peixe seco, carne e pele de cabra bem como na extracção e comercialização do sal. Foi no meio deste contexto económico e social favoráveis que nasceu a morna, segundo Moacyr Rodrigues e Isabel Lobo, graças à burguesia local que introduziu o piano na ilha. Rapidamente, a população local adoptou esse género musical, substituindo o piano pelo violão.
Segundo o cabo-verdiano Fausto Duarte, o violão marca a diferença entre a morna e o fado, género musical português que muitos consideram determinante na origem da morna: «Ambos (a morna e o fado) falam a linguagem musical da ternura. O marinheiro (português) serviu-se da guitarra para exprimir tristezas e com ela procurou humanizar as horas infindáveis do exílio. O cabo-verdiano tentou interpretar nas cordas do violão a mágoa soluçante da sua alma».
Já o também cabo-verdiano José Alves dos Reis rejeita qualquer influência do fado, que considera essencialmente fatalista ao contrário da morna que começa por evocar a tristeza mas acaba cantando o prazer. Por sua vez, José Lopes estima que a tristeza e a dor deram o nome à música e estabelece uma ligação entre a palavra morna e as expressões francesa ‘morne’ e inglesa to ‘mourn’ (lamentar-se).
Foram várias as tentativas para explicar as origens desta música, tendo uma delas levantado a pista árabe, devido à introdução em Cabo Verde da rebeca, instrumento bastante apreciado pelos tocadores de morna e próximo do rabah (rebab), um violino de duas cordas utilizado pelos árabes.
Segundo o músico e compositor Vasco Martins, por detrás da morna está o lundum, ritmo angolano transportado para o Brasil e introduzido na Boavista por escravos vindos daquele território latino-americano. Para o investigador Eutrópio Lima da Cruz, o romantismo europeu marca presença nesse género musical cuja composição obedece aos mesmos princípios: uma ou duas quadras seguidas de um refrão.
Com os marinheiros da Boavista, a morna chega às outras ilhas. Em São Vicente, ela vai evoluir no plano melódico graças a instrumentistas como Luís Rendall que, bastante influenciado pela música brasileira, introduz o choro na música cabo-verdiana. Na Brava, o romantismo do poeta Eugénio Tavares transforma as letras da morna. Os textos deixam de ser satíricos e cantam o amor, a mãe, a cretcheu (a paixão), o mar, a partida, a saudade, a separação… «A melhor morna é aquela que atinge a alma», diz Eutórpio Lima da Cruz. Com a chegada dos cantores, a morna conquista definitivamente as suas letras de nobreza.
Entre os grandes compositores da morna destacam-se Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido por B.Leza, Lela d’Maninha, Olavo Bilac, Muchim d’Monte, Sergio Frusoni, Jorge Monteiro “Jotamont“, Manuel d’Novas, Ano Nobo, Renato Cardoso e Betu, entre muitos, enquanto que Cesária Évora, Titina, Bana e Ildo Lobo fazem parte dos cantores mais emblemáticos.
A dança é outra componente importante da morna. Num texto escrito em 1932, B.Leza designa São Vicente como a ilha onde se dança a morna. Para Vasco Martins, a dança da morna, que inclui um ritmo lento e um ritmo rápido, conheceu o seu melhor período nos anos 30-45 com grandes dançarinos, entre eles Alice de Kakai, Amélia Miranda, Djunga d’Djack e Palim Santos.
Sérgio diz
Ah tá bom! A morna não tem origem e nada a ver com o Chorinho brasileiro..