Em 1994, o Coliseu de Lisboa encheu-se para receber “Dançar Cabo Verde”, o espectáculo que marcou o nascimento de uma dança contemporânea cabo-verdiana, hoje perpetrada pela companhia Raiz di Polon e o seu líder Manu Preto. Encomendada pela organização de Lisboa – Capital Europeia da Cultura, a peça foi criada pelos coreógrafos portugueses Paulo Ribeiro e Clara Andermatt.
Apresentado o espectáculo em Cabo Verde e na capital portuguesa, Clara decidiu dar continuidade à sua relação com a dança cabo-verdiana e no ano seguinte, a coreógrafa viajou até ao arquipélago juntamente com a sua bailarina e produtora Mónica Lapa para desenvolver um projecto ligado à dança. O resultado foi a realização de um atelier de coreografia e a criação de uma peça para a qual Vasco Martins foi convidado a compor a música.
A colaboração com o compositor de São Vicente, iniciada em “Dançar Cabo Verde”, iria mais longe, e o South Bound Project de Vasco seria apresentado em primeira parte do espectáculo “Clara Andermatt apresenta”, no Acarte, em 1996.
A convite da Expo 98, a coreógrafa, acompanhada do músico português João Lucas, lançou-se num novo projecto com músicos e bailarinos cabo-verdianos numa perspectiva igualmente contemporânea. «Em Cabo Verde, fizemos audições a músicos e dançarinos. Eu continuei a trabalhar com os dançarinos em Cabo Verde enquanto os músicos foram trabalhar durante um mês em Lisboa com o Lucas», recorda Andermatt.
O encontro resultou em “Uma história da dúvida”, peça que levou ao palco figuras da música cabo-verdiana nomeadamente Nhelas, Voginha, Malaquias e Orlando Pantera e dançarinos como Manu Preto. Durante dois anos, a peça viajou pela Europa e Estados Unidos, dando a conhecer a dança e a música do arquipélago. «A tournée proporcionou ainda grandes momentos musicais, tocatinas, etc», lembra a coreógrafa.
Foi durante a tournée que foi criada a peça “Dan Dau”, a mais musical das três obras da coreógrafa portuguesa. «É um concerto. A peça nasce de uma forma espontânea, através de músicas retrabalhadas», explica Clara, destacando no entanto a complexidade dessa criação. «O processo de procura de temas e das técnicas musicais foi mais rigoroso e mais municioso», anota.
A peça foi estreada em Portugal em 2001 e Clara Andermatt e os seus dançarinos e músicos preparavam-se para atravessar o Atlântico e apresentar a nova criação nos Estados Unidos quando ocorreram os atentados de 11 de Setembro contra o World Trade Center, em Nova Iorque, e o Pentágono, em Washington. “Dan Dau”, que traz uma versão inédita de “Sodade”, acabou por ficar na gaveta. Quanto à Clara, impôs-se uma pausa na sua relação profissional com a dança e a música de Cabo Verde, após sete anos de intenso intercâmbio.
Quem não parou é António Tavares, dançarino natural de São Vicente e autor da peça “Fou-Nana”, entre outras. A peça, uma homenagem ao ilustre escritor António Aurélio Gonçalves, conhecido no meio mindelense por Nho Rôque, é apresentada pelo autor como «um projecto que transporta os espectadores às Ilhas da Claridade, onde a dança e a música são algumas das suas mais fortes expressões culturais». Criada no âmbito de um convite formulado pelo Centro Cultural de Belém (CCB), “Fou-Nana” reúne nomeadamente os músicos, Julinho de Concertina e Néné do Ferrinho, tocadores de gaita e ferrinho, respectivamente, os dois instrumentos de base do funana tradicional.
Akiko diz
Pode entrar em contacto comigo , sff?
Obrigada