Os outros géneros
Exceptuando as músicas ligadas às romarias, com destaque para o cola San Jon, os géneros musicais secundários estão em vias de extinção.
Cantigas de trabalho
Outrora eram os bois que faziam funcionar o trapiche, alambique utilizado no fabrico da aguardente (grogue) na ilha de Santo Antão. Trabalhavam tanto que ficavam tristes e pareciam querer chorar. Então os alambiqueiros inventaram o aboio, música destinada a encorajar os animais, segundo Teresa Lopes da Silva. A esposa do escritor Baltasar Lopes coordenou a gravação de um álbum reunindo géneros musicais em desuso como o aboio e a mazurka. Com o grupo Cordas do Sol, estes géneros ganharam novo fôlego e uma nova roupagem melódica. As cantigas de trabalho estão igualmente ligadas à pesca e à agricultura e servem de emulação. Na ilha Brava, os agricultores cantavam as bombenas durante os trabalhos nos campos e apesar de muitos textos versarem a emigração, o objectivo era incitar o companheiro a redobrar esforços. «Era preciso uma certa animação», explica Osvaldo Osório, autor do livro “Cantigas de trabalho“. Já em Santiago, os adolescentes entoavam canções próprias aos guardas-de-sementeira para afugentar os pássaros “Xo Pelada“, gravado pelo Ferro Gaita.
Músicas religiosas
A celebração dos santos de Junho em Santo Antão, São Vicente e Brava é feita ao som do tambor. Toca-se e dança-se o cola San Jon, em honra de São João e Santo António. A dança consiste num encontro dos corpos do homem e da mulher. Recuam, avançam um para o outro e os seus ventres tocam-se violentamente. Também nas Festas da Bandeira, no mês de Maio, no Fogo, o tambor funciona como o verdadeiro relógio enquanto as populações dançam o canisade.
Nas ilhas de Santiago e Maio, a tabanka – ao mesmo tempo música, dança, representação teatral da sociedade e movimento de entre-ajuda – sai à rua para celebrar os santos de Junho. A música é feita ao som do buzio, do rufar dos tambores e das vozes de dezenas de homens e mulheres, que integram a “procissão”.
No passado, os proprietários das grandes plantações concediam um dia de descanso aos seus escravos, na altura da festa de Santa Cruz. Os escravos celebravam esse dia com música, dança e desfiles. Assim teria nascido a tabanka. Proibida antes da independência, a tabanka (que significa aldeia ou comunidade, em crioulo da Guiné-Bissau) é também uma maneira de criticar as derrapagens da sociedade, colocando em cena diferentes grupos sociais, nomeadamente soldados, padres, noivos, ladrões, reis, rainhas, etc.
Já a celebração da Nossa Senhora do Rosário em São Nicolau perdeu o seu brilho musical com o desaparecimento dos últimos cantadores de devina. No passado, os grupos de todas as aldeias reuniam-se na véspera da festa na vila da Ribeira Brava para cantar as orações. As ladainhas, cânticos para acompanhar os mortos em Santiago e Santo Antão, também conhecem um certo recúo.
Casamentos e jogos de crianças
«O que está em jogo é a nossa identidade!». Foi essa a reacção de Celina Pereira, ao constatar que alguns géneros musicais como as cantigas de roda que povoaram a sua infância, estavam em vias de desaparecer no torrão natal. Decidiu, então, proceder à sua recolha, gravação e divulgação no seio dos adolescentes.
A tradição de boas festas é outra manifestação musical que está a perder a sua popularidade. Essas marchas costumavam reunir, na noite de 31 de Dezembro, cantores e tocadores de violão e cavaquinho, que iam de casa a casa, desejar uma boa passagem de ano às famílias. Em troca, recebiam um copo de grogue e algumas moedas. Ainda hoje as crianças fazem a festa com os seus chocalhos feitos de pedaços de madeira e tampas de garrafa ao som de “Senhor São Silvestre” mas o seu número é cada vez mais reduzido.
Se os habitantes de Santiago dançam o batuque nos casamentos, os de Santo Antão celebram o matrimónio ao som do b’ta saúde. O ambiente festivo começa com os últimos preparativos da boda. Um grupo de mulheres, acompanhado por tocadores de violão e cavaquinho, desloca-se à casa dos pais dos noivos. Uma delas começa a cantar e as palavras são imediatamente repetidas pelas suas companheiras. Através do b’ta saúde, procura-se transmitir votos de saúde e felicidades ao futuro casal.
Os instrumentos musicais
Segundo Margarida Brito, os instrumentos tradicionais utilizados na música cabo-verdiana dividem-se em cinco grupos:
- Idiofones: reco-reco, chocalhos, ferrinho, panos.
- Membrafones: tambores, bateria, percussão.
- Aerofones: flautas, búzios, instrumentos de sopro.
- Cordofones: violino, violão, cavaquinho, cimboa, guitarra portuguesa.
- Electrofones: órgão eléctrico, guitarras eléctricas, sintetizadores.
Intrumento fundamental do funaná: a GAITA DE FOLES
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